Segundo Alessandro Molon (PT-RJ),
ponto nevrálgico para o entendimento continua sendo as posições divergentes
sobre o princípio da neutralidade da rede.
Brasília -
Representantes de mais de dez entidades que defendem a democratização da mídia
e parlamentares solidários à causa realizaram nesta quarta (26), na Câmara,
mais um ato público pela aprovação do novo marco civil da internet, que tranca
a pauta de votações da casa há um mês. Os líderes dos partidos, porém,
decidiram adiar mais uma vez a votação, já que ainda não firmaram acordo sobre
o mérito da matéria, que tramita na Câmara há dois anos.
O projeto, de autoria do
governo, foi construído com ampla participação dos movimentos sociais e, por
isso, recebe o apoio até mesmo de partidos da oposição, como o PSOL.
Contraditoriamente, a oposição mais ferrenha parte do principal partido da base
aliada, o PMDB, cujo líder, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), personificou a
defesa dos interesses das teles.
No artigo “Interesses de
fundo”, publicado ontem na Folha de S. Paulo, Cunha tente se despir da pecha
que, segundo afirma, lhe foi imputada “somente por má fé”, para tentar
constrangê-lo. Mas não é preciso ser especialista em análise de discurso para
observar que, no próprio texto, se coloca no lugar do investidor – e não do
usuário – para criticar a proposta: “Seria uma péssima sinalização para o mercado
internacional, que já considera a postura brasileira intervencionista, pouco
atraente”.
O relator da matéria,
deputado Alessandro Molon (PT-RJ), afirma que já se reuniu com 13 bancadas para
debater a proposta e construir o consenso necessário para sua aprovação, com
sucesso. Ainda nesta quarta, pretendia dialogar com mais três.
Faltariam, portanto, outras
quatro, antes de fechar um novo relatório sobre a matéria. Dentre elas a do
PMDB. “Eu teria o maior prazer em debater o projeto com o eles, mas não fui
convidado”, afirmou à Carta Maior.
Segundo ele, o ponto
nevrálgico para o entendimento continua sendo as posições divergentes sobre o
princípio da neutralidade da rede: governo e movimentos sociais querem manter,
mas o PMDB não aceita negociar. “Sem a neutralidade da rede, o internauta perde
sua liberdade de escolha. São as empresas que irão determinar o que a pessoa
poderá acessar. A internet ficará mais cara e pior”, observa o relator,
explicando que, sem a garantia da neutralidade, a depender do pacote
contratado, o acesso poderá ficar restrito, por exemplo, apenas ao acesso ao
e-mail.
Mas, apesar do impasse,
continua otimista que, até esta quinta (27), consiga fechar uma data de votação
para a matéria. “Temos que virar 2013 com o marco civil da internet aprovado
para que o Brasil sinalize, para dentro e para fora, que queremos uma internet
livre, democrática, descentralizada e segura”, afirmou.
O deputado Nilson Leite
(PT-SP) destacou a importância de se garantir outro ponto do projeto bastante
criticado pelos representantes das teles: a obrigatoriedade das operadoras
manterem suas centrais de dados no Brasil. “Após as denúncias de Snoldew, nós
convocamos todas as operadoras para prestarem esclarecimentos e descobrimos que
todas elas mantém seus data-centers nos Estados Unidos e prestam contas à
justiça norte-americana”, observou.
Para o deputado Chico Alencar
(PSOL-RJ), os movimentos sociais precisam continuar pressionando para que o
legislativo atue de forma a garantir os interesses sociais da população, e não
os interesses empresariais de uma minoria. E alertou que a pressão das teles
sobre os parlamentares tende a se tornar cada vez mais acirrada. “As teles não
querem perder esse filão de mercado, que é vender internet a preços populares para
que o internauta acesse apenas os conteúdos indicados por elas”, justificou.
Representando o Coletivo
Intervozes, Bia Barbosa corroborou a necessidade de pressão dos movimentos
sociais sobre os deputados para que o projeto seja aprovado ainda este ano, sem
alterações que comprometam não só a neutralidade da rede, mas também a
democratização do acesso e a liberdade de expressão.
“As teles fazem um lobby
muito pesado. Estamos em véspera de ano eleitoral. Há acordos políticos sendo
fechados. Há a questão do financiamento de campanha. Precisamos nos manter
atentos”, afirmou.
Presidente da Frente
Parlamentar pela Liberdade de Expressão, a deputada Luíza Erundina defendeu que
a matéria seja colocada imediatamente em votação.
Segundo ela, não há
necessidade de se firmar acordo entre os líderes para que o projeto seja
apreciado. “Nem sempre se tem unanimidade, mas é por isso que vale o desejo da
maioria”, esclareceu. Créditos
da foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.