"Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso
regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica
fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos
e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e
não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se
chama educação. Caso nós, sociedade e 'postadores' não tenhamos noção disto
estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos
como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de
educação."
Na opinião desta blogueira, falta ao cidadão maturidade, educação e
melhor compreensão do que vem a ser liberdade de expressão.
De tragédias, preconceito ou Os canalhas de plantão. A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que
encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é
capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior.
Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é
regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas
um mínimo de respeito é de bom tom.
Artigo de Paulo Emílio, editor do PE247.
Paulo Emílio _ PE247 - A internet é algo
fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura
e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de
pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer
assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública
é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo
de respeito é de bom tom. Os exemplos são inúmeros.
No mais recente, a recente tragédia que vitimou
mais de 230 jovens em um incêndio em Santa Maria (RS) serviu para explicitar o
que o ser humano tem de pior. Em meio às declarações de dor, apoio e
solidariedade houve gente capaz de postar "Isso não pode ser verdade.
O meu Rio Grande não merece isso. Se fosse no Amazonas, Piauí, na Bahia, no
Ceará, onde não há vida inteligente, tudo bem. Mas no meu Rio Grande e logo na
cidade do meu falecido pai é de cortar o coração. Estou de luto", postou
Patricia Anible. Ou outra que postou no Twitter que“O povo do sul não ama
churrasco? Está tendo um monte lá em Santa Maria”... e vai por aí.
Quer dizer que a vida de alguém que mora nas
regiões Norte e Nordeste vale menos que alguém que mora no Sul ou Sudeste? Ou
que alguém pode tripudiar sobre a tragédia que comoveu não apenas um país, mas
o mundo – vide as mensagens de apoio e solidariedade emitidas por
representantes dos mais diversos credos e países e por figuras públicas e
anônimas – sem ao menos pensar naquilo que escreve? É fácil se esconder na
Internet, ser um “ativista de sofá” ou um “cabeçóide” ou até mesmo dizer o que
realmente se é – um preconceituoso sem escrúpulos ou algo semelhante – através
do anonimato da grande rede.
Ah, detalhe, os nordestinos, os pernambucanos,
diga-se de passagem, foram os primeiros a disponibilizar pele humana para ser
utilizada em transplantes dos feridos na tragédia gaúcha. E isto feito
justamente por um “povinho de segunda e que não merece nem viver”, segundo
a opinião de muitos dos que acham que vivem em um mundo à parte, formado por
uma elite que arvora para si a eugenia como um fator de diferenciação.
Nesta seara sobrou até para o ex-presidente Lula,
que ao emitir uma nota de solidariedade e condolências foi taxado, tanto por
anônimos que não gostam dele por alguma razão como por jornalistas que viram no
fato um viés político, evidenciando que o mesmo “não tem limites”. E desde
quando um cidadão – sim, ele é um cidadão quer se goste ou não – não pode
manifestar suas condolências como qualquer outra pessoa? O que não pode e nem
se deve é dizer que tudo o que ele espera desta situação é tirar proveito
político. E vem mais, desta vez por parte dos cabeçóides e ativistas de
sofá: “A culpa é do PT. Onde tem PT tem ladrão” e vai por aí.
O deputado federal Jean Wyllys (PSB-RJ) sabe no
couro o que é ser alvo deste tipo de ataque. Ao se posicionar em favor do
direito dos homossexuais, na defesa da separação entre Igreja e Estado, ao
defender direitos trabalhistas para as prostitutas ou mesmo ao dizer que
pretende adotar um filho, apanhou mais que cachorro amarrado em
poste. Desde comentários explícitos contra sua orientação sexual e o seu
posicionamento, boa parte do que se viu postado por trás do anonimato foram
declarações carregadas de preconceito e ameaças. Sim, até mesmo ameaças de
morte lhe foram feitas.
Ora, o seu papel como parlamentar é defender ideias
de uma parcela da sociedade que também pensa assim. Da mesma forma o deputado
de ultradireita Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem o mesmo direito de defender suas
ideias contrárias ao aborto ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Eles foram eleitos para isso. Pode-se discordar de suas opiniões e posições,
mas nunca agredir de forma pessoal um ou outro e, da pior forma possível, de
forma anônima e covarde.
O governador de Pernambuco e presidente nacional do
PSB, Eduardo Campos, é outro alvo. Nordestino e potencial pré-candidato à
Presidência da República, é alvo de radicalismos tanto de esquerda como de
direita. E novamente os ataques não ficam no plano ideológico-partidário, mas
descambam para o preconceito pura e simples: “É mais um nordestino como o
Lula”, “rola-bosta”, nesta onda sobra até para quem se posiciona contra a
“manada”. “vendido”, “corno”, “baba ovo”, são alguns dos adjetivos encontrados
facilmente nos comentários postados na internet. Discordar é normal e
saudável, agredir é dar vazão a uma carga de preconceito que mais do que
mostrar a falta de argumentos denota o caráter do autor.
Internet é um território livre? Livre, mas nem
tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação
doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos
nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas
opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo
que se chama educação. Caso nós, sociedade e “postadores” não tenhamos noção
disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos
como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação.
Ameaças, piadas, tripudiar com a dor alheia,
preconceito, racismo, como temos visto virar regra no limbo da internet e do
anonimato que ela proporciona, é algo lamentável e que, infelizmente, parece
estar virando a regra geral.
Brasil 247. Via Abra a Boca Cidadão. Postado por Marcos Imperial.